a poesia é o rastro inconfundível do amor

Publicado em 21/12/2016

eu queria que você me visse por dentro
mas escrever também é uma forma de ser de vidro
o desafio é fazer com que as palavras sejam certeiras
dar sentido e ser sentida

eu queria te contar sobre a minha combustão
eu pego fogo quando o coração pulsa tão forte que causa atrito
mas há um extintor sempre a postos
como o músculo da coxa que contrai quando você chega perto

a poesia é o rastro inconfundível do amor
a prova inconteste, o raio-x do osso quebrado
é um modo de encarar a vida
tão eficiente quanto sua fuga silenciosa

eu pensei que poderia ser frágil novamente e voltar aos dezesseis
mas é impossível abrir mão da mulher forte que me tornei
porque é isso que esperam que eu seja vinte e quatro horas
quando cogito a possibilidade de existência do grande amor
projeto um lugar - peito - abraço - onde eu possa ser menos

há alguns anos tomamos consciência sobre estar no meio da guerra
e desde então procuramos nos esconder atrás de sacos de areia
tomamos fôlego e nos livramos do peso do escudo por um minuto
então entendemos que o amor não é uma batalha, amor é estar em paz

escrevo pra te dissolver
pra me libertar
pra confeccionar o indício
de que um dia você esteve aqui

escrevo enquanto
escrevo para

te escrevo

com um coração ao fundo
nomeando a trilha sonora

sinto saudade da sua voz

novembro/ 2016

Publicado em 09/12/2016

dia 21
hoje o dia se arrastou. preciso de colo. preciso compartilhar meu sono. a falta de deitar a cabeça noutro peito é maior do que a falta de qualquer pessoa. mas não vou cair no mesmo erro. existe um buraco dentro de mim e não quero preenchê-lo com adubo. o amor não precisa de estimulantes.

dia 22
o dia acordou difícil mas terminou em ciranda. as coisas estão fora do lugar. elas sempre estão. no malabarismo diário há uma peça que sempre deixo cair no chão e ignoro por saber da minha incapacidade de gestão. reconhecer com lucidez a própria vulnerabilidade ajuda a aliviar. hoje toquei baião e ciranda na caixa. embora não seja meu instrumento preferido, a caixa é sóbria e preciso disso para me lembrar que ainda sei (me) conduzir. alguns chamam de caixa de guerra, já que surgiu para fazer a marcação das marchas militares. estamos na guerra.

dia 23
é natural que eu me assuste ao ver o monstro da solidão crescendo, voltando, tomando forma. preciso ficar sozinha pelo menos até o carnaval. preciso esquecer o amor e me lembrar do tempo que perdi achando que era amada. quero desfrutar de belo horizonte com liberdade. hoje o dia foi mais leve, talvez o inferno astral não esteja tão próximo assim. dormi à tarde sem culpa e adiei outras obrigações. estou procurando nos homens uma doçura que receio não existir. estou perdida em minha solidão e ela se une às possibilidades de liberdade e experimentação.

dia 25
me sinto vulnerável em rotatórias. é como se a qualquer momento alguém fosse ignorar as leis implícitas e invadir meu espaço causando uma colisão. no caso de velocidade alta, os acidentes são fatais. tenho passado pelas pessoas como quem passa por rotatórias, correndo perigo. rapidamente. não adianta seguir as leis naturais. estar no trânsito é um risco. viver é um risco e é preciso lembrar disso até quando solidão é uma pedra no sapato. não consigo deixá-la. 

dia 27
hoje tocou cazuza no bar. te pego na escola e encho a tua bola com todo meu amor. faz parte do meu show. e eu me perguntei como seria se você estivese comigo em todos esses anos. será que eu cresceria tanto ou seria sempre sua eterna criança? o que você diria se me visse hoje? ainda teria orgulho de mim? do seu lado eu seria sempre uma menina e isso não é ruim. às vezes observo as linhas da minha mão e sinto vontade de ir em uma cartomante pra saber se você ainda volta. você ainda lê machado de assis antes de dormir? ainda fantasia um mundo paralelo para além das flores do jardim? sinto que estou perdendo minha ternura. preciso de alguém que resgate a parte doce de mim.

sou uma fábrica de tempestades

Publicado em 13/10/2016

e nisso reside boa parte dos meus erros
sempre tive medo de trovões e rajadas de vento
mas ao invés de evitá-los faço a dança da chuva
instinto tragicômico masoquista experimental
nascido da necessidade de estar cara a cara com os temores

se você fosse um lugar, seria meu esconderijo

Publicado em 21/06/2016

um campo coberto de flores com pétalas aveludadas
no meio da floresta protegido pelas árvores mais altas
um abrigo exposto ao sol inteiramente aberto
(você sabe que eu nunca me esconderia no escuro)

quando penso nisso e me deito para olhar as nuvens
pequenas plumas brancas grudam na minha roupa

acho que estou sonhando
mas o que é o amor
senão a linha tênue
entre a realidade e a fantasia?

e se você fosse um pedaço de espaço
uma parte de mim moraria em você
mesmo com o corpo se deslocando sem querer
para tantos outros lugares automáticos

(mas isso já acontece
 não mudaria nada)

nem tudo está perdido

Publicado em 13/06/2016

aliás, nada estará perdido
enquanto houver um único suspiro
em nome do amor

enquanto der pra dividir a vida
em um milhão de atos
e amar nos intervalos
pausando o espetáculo vazio

acho que mesmo as coisas boas
não são apenas boas
como naquele dia em que falávamos 
sobre o gosto ímpar do molho agridoce
ou como nossa briga
depois do jantar romântico 

é muita sorte 
que no fim de cada cena
eu acabe nos seus braços 
sempre acho que carrego
um bilhete premiado
um biscoito da sorte

mas é só a fé
falando mais alto que tudo
pra gente não esquecer
nem por um segundo
de acreditar em nós

afinal

nem tudo está perdido

tudo se cala no meio de nossos corpos

Publicado em 31/05/2016

deixei de escrever
quando você se tornou
meu poema
e meu silêncio

o egoísmo
da poesia silenciosa
me consumiu
até aqui

a rima envolta
na sua pele
a métrica
do seu pescoço 

nada basta
porque o amor
pelo menos ele
há que ser dito
Publicado em 30/05/2016

da escuridão
quero apenas o referencial
de beleza dos cegos
que não veem
mas sentem o belo

somos a penumbra
quebrando a exatidão 
dos dias e noites
a ponte entre o sol e a lua
a transição, a exceção, o elo

you know
eu prefiro
te observar
com as mãos 

bom dia

Publicado em 28/05/2016

a essa hora eu já teria comprado o pão
ou estaríamos na cama como dois gatos se esticando
e depois de nos espreguiçarmos e nos irritarmos
sorriríamos para o primeiro gozo do dia.

sozinha, me alimento de Matilde
ela fala de amores semieternos
e me pergunto se é isso que seremos daqui algumas horas
qual será o grande motivo dessa vez?
que meteoro caído cortará nossa eternidade com sua lâmina afiada?
a terra é bombardeada a todo momento por toneladas de material cósmico,
não seria difícil achar uma explicação.
mas você sabe que quando se trata de nós
é mais fácil fazer a humanidade entrar em consenso
sobre a existência de vida em outros planetas,
é mais fácil convencer o mundo inteiro
de que os x-men andam soltos por aí
do que achar uma teoria que explique razoavelmente
tantos encontros (e desencontros).
não há uma justificativa possível para o nosso amor
e nessa incompreensão mora um tanto de beleza.

todas as causas nos escapam
e por falar em escapar,
imagino você voando
e indo para bem longe
leve como uma pena
sobre a pedra que sou
enquanto permaneço ao solo

não sei se você chegou a ver
mas alguns juízes têm usado poesia para proferir sentenças
particularmente acho mais eficiente usá-la como defesa.
nesse caso específico existe uma coisa vermelha e pequena
pulsando por trás da caixa torácica (feche a mão para imaginá-lo)
não é engraçado que a única forma de simular o coração seja serrando os punhos?
é um constante estar pronto pra briga
e mais do que isso - estar pronto para perder
porque nós sabemos que a caixa torácica não é forte o suficiente
e mesmo se fosse, a ameaça física é só o início
a coisa vermelha pode ser atingida por um fluido espiritual
ou por qualquer uma dessas energias invisíveis
que alguns preferem chamar de sentimentos.

há uma coisa, apenas uma coisa 
que nem a poesia nem os ossos nem ninguém pode fazer
que é proteger o coração do amor.
os cientistas ainda não descobriram, os poetas também não
mas o amor é uma bala que chega na velocidade da luz
e fica acoplada à pele até decidir a hora de ir embora.
muitas vezes a hora não chega e ele vai ficando, ficando
até ficar pra sempre, como um novo órgão
invisível e indispensável para o funcionamento do organismo.
se isso é tudo que desejamos - um amor que não vá embora,
suspeito já que nascemos com um pequeno buraco no peito
cuja única função é receber a bala.

o coração só quer um disparo que o atinja e não o parta.

você mudou de rosto,

Publicado em 14/03/2016

você mudou de cor, mas ainda guardo nossa história, nossa versão de amor como um manuscrito que nunca será publicado ou destruído. naquele tempo eu não era dada à astrologia, caso contrário viveria a procurar alguém com teu mapa astral. só lembro que o dia do teu nascimento formava o desenho exato do infinito e que sorte eu tinha por não saber quase nada. 

especialmente hoje

Publicado em 21/02/2016

eu te quis por perto
mas você não estava

não sei onde você estava
faz tempo que não sei seu paradeiro

acho que a morte
é quando deixamos
de alcançar alguém 

é não poder quebrar o silêncio
em hipótese alguma
nem mesmo nesses casos

hoje eu precisei muito de você

Publicado em 17/02/2016

até mesmo o amor
não deveria
resistir a tanto

tenho lutado

e você
a golpes baixos

mas ele não cai

ele se fere
mas não cai

como se fosse hoje

Publicado em 11/02/2016

Ana me dizia:
"não precisa ser o amor da sua vida
pode ser só uma troca de amor
um outro tipo de amor
mas que valha a pena
compartilhar, fazer planos
agendar um horário especial"
se fosse hoje, eu diria a ela
que me lembrasse de não me esquecer de mim
que me aconselhasse a traçar a volta
com o mesmo afinco 



leio

Publicado em 03/02/2016

vivo
amo
esqueço
sofro
rio
sonho
sinto

e finalmente paro
para estar aqui

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