recuperado do gravador em 061217 às 2257
cansei de ser água doce
me deixa ser o mar
para que você possa ser o rio
e correr em minha direção
e se misturar ao meu sal
o sal do meu suor
o doce dos meus olhos
o amargo
o amargo de ser eu
POEMA PARA DRUMMOND: CONTORCIONISMO
Publicado em 22/11/2017
amar na primeira estrofe
amar na primeira estrofe
o barulho na
escada
do coração
rangendo
nesses
tempos
em que
provisoriamente
não cantamos
o amor
tudo ainda
passa num minuto
e o lamento
final
é uma pedra
correndo muda
na enchente
que invade a rua
e refaz o
caminho
da saudade
da sede itabirana
da coragem dos
homens e mulheres
que não se
negam a sonhar
pra você
que está em tantos
os lugares.
no poema, na bahia, na estante.
no
sentimento do mundo,
numa cidade
qualquer.
pra você
que mora na estátua
de cento e
cinquenta quilos,
nas veias,
nas janelas,
entre
cafezais e sonhos
como um
poema que aconteceu.
nada menos
que a eternidade.
Publicado em 09/10/2017
tenho uma tendência crônica a desistir de tudo. às vezes desisto dos dias, sempre depois da metade. o sol de antes do meio dia ainda é forte o suficiente para o surgimento da esperança. a insistência no sofrimento que dá vida sempre me acompanhou. a necessidade do belisco atestando a realidade. gosto de parar quando percebo que chegou. o primeiro fio de pensamento sobre a mais remota possibilidade de desistência. um esqueleto de argumentação, os embriões dos motivos tomando forma e o estopim. vamos jogar nas cartas qual será o estopim. lembro de quando havia finais felizes. todo o texto caminhava para um rumo, de repente, mudava abruptamente de direção para regar a esperança. como quando eu não quero sair, mas desisto de última hora e coloco a roupa mais bonita pra te acompanhar. talvez ainda haja tempo para não desistir dos finais felizes. talvez ainda não seja hora de pensar no fim.
tenho uma tendência crônica a desistir de tudo. às vezes desisto dos dias, sempre depois da metade. o sol de antes do meio dia ainda é forte o suficiente para o surgimento da esperança. a insistência no sofrimento que dá vida sempre me acompanhou. a necessidade do belisco atestando a realidade. gosto de parar quando percebo que chegou. o primeiro fio de pensamento sobre a mais remota possibilidade de desistência. um esqueleto de argumentação, os embriões dos motivos tomando forma e o estopim. vamos jogar nas cartas qual será o estopim. lembro de quando havia finais felizes. todo o texto caminhava para um rumo, de repente, mudava abruptamente de direção para regar a esperança. como quando eu não quero sair, mas desisto de última hora e coloco a roupa mais bonita pra te acompanhar. talvez ainda haja tempo para não desistir dos finais felizes. talvez ainda não seja hora de pensar no fim.
00:45
Publicado em 22/09/2017
tem seu gosto
e tem o cheiro do seu gosto
tem os nossos dias
e a cor dos nossos dias
o humor
a trilha
a receita
a cozinha
quero nos destrinchar mas não consigo
me desmonto pra ver certeza em cada parte
pra ver você em cada parte
nossa escada
nosso edifício
você não faz ideia
da força
da base
que nos une
eu sempre estarei aqui
tem seu gosto
e tem o cheiro do seu gosto
tem os nossos dias
e a cor dos nossos dias
o humor
a trilha
a receita
a cozinha
quero nos destrinchar mas não consigo
me desmonto pra ver certeza em cada parte
pra ver você em cada parte
nossa escada
nosso edifício
você não faz ideia
da força
da base
que nos une
eu sempre estarei aqui
dia sete
Publicado em 12/07/2017
meu amor,
meu amor,
nunca saberei sua real extensão porque conosco acontece o mesmo que ocorre à história diante dos grandes acontecimentos. é impossível ter noção da importância dos fatos quando quando se está dentro deles. espero nunca saber seu real tamanho porque você insistirá em ser um grande acontecimento dia após dia e eu insistirei em permanecer dentro de você de todas as formas possíveis. você é o maior acontecimento e para nós isso basta. basta também que eu meça seu tamanho de perto, o formato dos seus dedos, a textura ressecada da tua boca no inverno, os caracóis iluminados do teu cabelo e todas as coisas que seria impossível mensurar a um passo de distância. que seja sempre assim. que deixemos por conta dos outros qualquer análise que exija um grau mínimo de impessoalidade. que sejamos responsáveis apenas (por nós?).
casca
Publicado em 25/06/2017
0. introdução
se alguém disser que ama sua fraqueza estará mentindo. ninguém quer percorrer o universo incerto para além da casca dura que você passou anos construindo. por dentro sangra. por dentro não é tão bonito.
1. a lembrança
0. introdução
se alguém disser que ama sua fraqueza estará mentindo. ninguém quer percorrer o universo incerto para além da casca dura que você passou anos construindo. por dentro sangra. por dentro não é tão bonito.
1. a lembrança
posso sentir o atrito. a pele do joelho raspando com força e acidentalmente no cimento do chão do quintal. na infância eram esses os tombos que agora servem de metáforas para outros maiores e mais doloridos não tão literais porém mais letais. passada a dor, havia a urgência e emoção em tirar a casca, matar a ferida. romper o curso natural de cicatrização e correr o risco de encontrar algo desagradável por baixo da crosta. ainda hoje carrego resquícios dessa urgência.
2. a camada
mas aqui entramos em outro ponto, que é na verdade o foco deste devaneio. a casca. a facilidade e a naturalidade com que fazemos isso na infância. coragem.
3. a origem dos tombos
grande parte dos tombos foi em momentos de alegria em que não era possível evitar o auto-atropelamento. pés se embaraçavam na pressa. a rapidez acompanhava a empolgação por qualquer coisa hoje idiota.
4. internato
ainda lembro como se fosse hoje. quando cheguei no colégio interno, fora os adventistas, as pessoas, no geral, eram conhecidas pelos seus erros. cada um foi mandado para lá por um motivo específico, para "consertar" alguma coisa. por causa dos nossos erros nos encontrávamos. estávamos todos no mesmo balaio-humano-errático. ainda estamos.
Publicado em 25/05/2017
Eu nunca soube o que é a dor da morte e continuo sem saber. O grau de tristeza das tragédias depende do quanto não esperamos por ela e vovó nos preparou bem demais para tudo. Anunciou de um jeito doce sua partida e se despediu de um por um. como nos despedimos. Graças à minha memória fraca, não me lembro exatamente do que falamos naquela segunda-feira além do gosto das comidas do hospital e como sua pressão havia se comportado na noite anterior. Quase desperdicei minha despedida. Cheguei a pedir papai que dissesse a ela que por conta do cansaço deixaria a visita para amanhã. Mas naquela tarde o sono não veio e tive medo de tê-la amado pouco, ou de pensar nisso quando ela fosse embora. Não tinha nada nas mãos além de amor e um doce de leite mineiro que comprei no aeroporto de Belo Horizonte. Também lembro de ter hesitado sobre o doce. Como ia dizendo, não sei de que assuntos falamos, mas lembro de caminharmos no corredor do hospital a passos lentos, ela com a mão sobre a minha, essa seria a última vez que eu andaria devagar. Andar correndo é um habito que até hoje só abandonei quando estive ao seu lado. nesse momento a cortina amarela balança com o vento e quando o sol movimenta as sombras dentro do quarto, chego a pensar que vovó está dançando ao meu lado enquanto falo sobre ela, mais uma vez.
Eu nunca soube o que é a dor da morte e continuo sem saber. O grau de tristeza das tragédias depende do quanto não esperamos por ela e vovó nos preparou bem demais para tudo. Anunciou de um jeito doce sua partida e se despediu de um por um. como nos despedimos. Graças à minha memória fraca, não me lembro exatamente do que falamos naquela segunda-feira além do gosto das comidas do hospital e como sua pressão havia se comportado na noite anterior. Quase desperdicei minha despedida. Cheguei a pedir papai que dissesse a ela que por conta do cansaço deixaria a visita para amanhã. Mas naquela tarde o sono não veio e tive medo de tê-la amado pouco, ou de pensar nisso quando ela fosse embora. Não tinha nada nas mãos além de amor e um doce de leite mineiro que comprei no aeroporto de Belo Horizonte. Também lembro de ter hesitado sobre o doce. Como ia dizendo, não sei de que assuntos falamos, mas lembro de caminharmos no corredor do hospital a passos lentos, ela com a mão sobre a minha, essa seria a última vez que eu andaria devagar. Andar correndo é um habito que até hoje só abandonei quando estive ao seu lado. nesse momento a cortina amarela balança com o vento e quando o sol movimenta as sombras dentro do quarto, chego a pensar que vovó está dançando ao meu lado enquanto falo sobre ela, mais uma vez.
fragmento
Publicado em 24/05/2017
suspeito que o grande desafio do amor
seja evitar que a alegria se concentre em um único ponto
suspeito que o grande desafio do amor
seja evitar que a alegria se concentre em um único ponto
como a pinta nas suas costas
que poderia abrigar tudo que ainda hei de sorrir
mas dessa forma nos afastaríamos
da essência do sentimento
essa dispersão quase bêbada da euforia
que nos faz feliz no ocaso e na aurora
e em todos os instantes nos quais ingenuamente queremos morar
onde a arte não precisa ser uma fuga
onde o mel escorre indiscriminadamente
e mesmo no asfalto vislumbramos o mar
Publicado em 22/04/2017
faz tempo que o amor não passa do primeiro passo
degustação
por isso não posso perder a solidão de vista
não quero esquecer o caminho do lugar para onde acabarei voltando
meu coração não carrega mais o peso das tragédias
e o fim não é mais uma prova de fogo
porque até os desafios perdem o grau de dificuldade
quando se tornam uma constante
quero me sentir segura como o beija-flor suspenso no ar
mesmo sabendo que nenhum outro pássaro é capaz de tamanha estabilidade
o grande segredo está nos redemoinhos invisíveis
ao contrário das outras aves, ele não agita as asas pra cima e pra baixo,mas para a frente e para trás, na horizontal
a isso deram o nome de truque do voo invertido
nesse caso a rapidez não é tudo
são oitenta batidas por segundo
mas no fundo, é só uma questão de jeito
assim como nas aventuras,aberturas, exceções
eu não quero mudar de combustível
estou perdendo o jeito
Publicado em 06/03/2017
é tudo que consigo pensar
quando você dorme ao meu lado
e não tiro sua roupa
observo a vida do vigésimo terceiro andar
e só posso escrever sobre o que vejo
desde que tomei uma distância segura
desde que assumi as rédeas de mim
a literatura se tornou algo distante
estou torcendo um pano seco
quero as palavras mas não quero me molhar
de qualquer forma é um caminho
uma possibilidade
tudo tem seu preço mas nada é tão irreversível
até a surdez do beijo na orelha passa
e a ponte que durante o carnaval
abre mão dos carros e recebe os passos lentos
de quem vai em busca da felicidade
é só o que queremos
e se o amor nos parece um atalho
por que não?
é tudo que consigo pensar
quando você dorme ao meu lado
e não tiro sua roupa
observo a vida do vigésimo terceiro andar
e só posso escrever sobre o que vejo
desde que tomei uma distância segura
desde que assumi as rédeas de mim
a literatura se tornou algo distante
estou torcendo um pano seco
quero as palavras mas não quero me molhar
de qualquer forma é um caminho
uma possibilidade
tudo tem seu preço mas nada é tão irreversível
até a surdez do beijo na orelha passa
e a ponte que durante o carnaval
abre mão dos carros e recebe os passos lentos
de quem vai em busca da felicidade
é só o que queremos
e se o amor nos parece um atalho
por que não?
quase em branco
Publicado 31/01/2017
sinto falta da natação. gostava da falsa ideia de estar finalmente aprendendo a respirar. na vida é assim, ou se tem fôlego ou se tem fôlego. hoje um dos peixes morreu, o espelho quebrou e fiquei trancada do lado de fora de casa. mas você sabe, todas essas coisas são pequenas. ana colocou uma tampa de sorvete no aquário, não sei o que isso significa. o peixe não durou nem até o fim de janeiro. o espelho quebrou enquanto mellina brincava no quarto e eu saí do chuveiro como um furacão. sua cara assustada prestes a chorar me dizia que o espelho caíra sozinho. eu lhe abracei e contivemos o choro. hoje agradeci de verdade pela primeira vez depois do acidente da última semana. às vezes tudo que precisamos é de uma espera forçada. sentar e esperar mesmo que contra a vontade.
sinto falta da natação. gostava da falsa ideia de estar finalmente aprendendo a respirar. na vida é assim, ou se tem fôlego ou se tem fôlego. hoje um dos peixes morreu, o espelho quebrou e fiquei trancada do lado de fora de casa. mas você sabe, todas essas coisas são pequenas. ana colocou uma tampa de sorvete no aquário, não sei o que isso significa. o peixe não durou nem até o fim de janeiro. o espelho quebrou enquanto mellina brincava no quarto e eu saí do chuveiro como um furacão. sua cara assustada prestes a chorar me dizia que o espelho caíra sozinho. eu lhe abracei e contivemos o choro. hoje agradeci de verdade pela primeira vez depois do acidente da última semana. às vezes tudo que precisamos é de uma espera forçada. sentar e esperar mesmo que contra a vontade.
Publicado em 17/01/2017
estou trabalhando há dois dias no mesmo texto. temo nunca mais escrever com tanta liberdade. de um ou dois anos pra cá, nasceu em mim um medo de soar ridícula. por isso estou cortando as partes ridículas do poema antigo para declamá-lo. ao final posso descobrir que ele era ridículo de um todo, assim como eu, e então nada se salvará, nem eu, nem o poema, porque somos tão rendidos e dementes que nos tornamos descartáveis. o contrário também assusta. o ridículo pode ser justamente o que temos de mais belo e por medo de soarmos vulneráveis talvez estejamos abrindo mão da beleza. por que eu nunca sei o caminho? por que tenho tanto medo de ser essa interrogação?
estou trabalhando há dois dias no mesmo texto. temo nunca mais escrever com tanta liberdade. de um ou dois anos pra cá, nasceu em mim um medo de soar ridícula. por isso estou cortando as partes ridículas do poema antigo para declamá-lo. ao final posso descobrir que ele era ridículo de um todo, assim como eu, e então nada se salvará, nem eu, nem o poema, porque somos tão rendidos e dementes que nos tornamos descartáveis. o contrário também assusta. o ridículo pode ser justamente o que temos de mais belo e por medo de soarmos vulneráveis talvez estejamos abrindo mão da beleza. por que eu nunca sei o caminho? por que tenho tanto medo de ser essa interrogação?
dois pra lá, dois pra cá
Publicado em 02/01/2017
de um lado a gente dançando na sala. do outro eu desistindo de nós por falta de disposição para amar a conta-gotas. de um lado a marca no meu pescoço e eu te mostrando minha intimidade. do outro você perdendo o tesão e fingindo que é normal. de um lado a escritora que vibra e sorri só de ouvir sua voz. do outro a mulher forte e autossuficiente que finge silêncio pra não sofrer (mas sofre). de um lado a euforia, do outro a indiferença. de um lado o drama, do outro a indiferença. de um lado o amor, do outro a indiferença. o problema é que eu entrego os pontos, perco as forças, abro mão. caio do touro e fico no meio da arena esperando para ser pisoteada. me atraem as derrotas triunfais, as tragédias que levam ao encontro da solidão. estou encolhida no canto da sala, pequena e indefesa. estou sufocada e reprimida. eu não sei pisar em ovos mas ainda não desisti, eu nunca desisto. é só escrever, escrevendo eu sobrevivo a tudo. escrevendo me sinto viva.
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