a eternidade é uma sucessão

Publicado em 28/12/2013

estou caindo da cama, mas me agarro firme com a coragem e a fé que me restam. forço o lençol com as unhas, inclino o corpo para cima do colchão e imploro, quase em forma de prece, para que ela não me deixe cair, para que segure minha mão e me abrace e me puxe para perto de si. mas ela dorme profundamente e minha prece silenciosa não a alcança. apenas quando o sol nasce, ela desperta de seus sonhos distantes e me beija com calma e doçura. enxugo o suor, disfarço o cansaço, como se estar ali não exigisse esforço algum. assumo o papel de duas forças distintas. metade quer uma paisagem ímpar, um ângulo único, o per ten ci men to. o resto se contenta em apreciar e sentir toda beleza que se revela aos olhos como uma dádiva. aceito. aceito sorrindo, aceito feliz, aceito dançando pela sala. dia após dia decido continuar por saber que todas as coisas realmente grandes são formadas por uma infinidade de pequenas, minúsculas, imperceptíveis coisas.

"Eternidade não era a quantidade infinitamente grande que se desgastava, mas a eternidade era a sucessão. Então Joana compreendia subitamente que na sucessão encontrava-se o máximo de beleza, que o movimento explica a forma e na sucessão também se encontrava a dor porque o corpo era mais lento que o movimento de continuidade ininterrupta." - Clarice Lispector em Perto do Coração Selvagem

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