quase em branco

Publicado 31/01/2017

sinto falta da natação. gostava da falsa ideia de estar finalmente aprendendo a respirar. na vida é assim, ou se tem fôlego ou se tem fôlego. hoje um dos peixes morreu, o espelho quebrou e fiquei trancada do lado de fora de casa. mas você sabe, todas essas coisas são pequenas. ana colocou uma tampa de sorvete no aquário, não sei o que isso significa. o peixe não durou nem até o fim de janeiro. o espelho quebrou enquanto mellina brincava no quarto e eu saí do chuveiro como um furacão. sua cara assustada prestes a chorar me dizia que o espelho caíra sozinho. eu lhe abracei e contivemos o choro. hoje agradeci de verdade pela primeira vez depois do acidente da última semana. às vezes tudo que precisamos é de uma espera forçada. sentar e esperar mesmo que contra a vontade. 
Publicado em 17/01/2017

estou trabalhando há dois dias no mesmo texto. temo nunca mais escrever com tanta liberdade. de um ou dois anos pra cá, nasceu em mim um medo de soar ridícula. por isso estou cortando as partes ridículas do poema antigo para declamá-lo. ao final posso descobrir que ele era ridículo de um todo, assim como eu, e então nada se salvará, nem eu, nem o poema, porque somos tão rendidos e dementes que nos tornamos descartáveis. o contrário também assusta. o ridículo pode ser justamente o que temos de mais belo e por medo de soarmos vulneráveis talvez estejamos abrindo mão da beleza. por que eu nunca sei o caminho? por que tenho tanto medo de ser essa interrogação?

dois pra lá, dois pra cá

Publicado em 02/01/2017

de um lado a gente dançando na sala. do outro eu desistindo de nós por falta de disposição para amar a conta-gotas. de um lado a marca no meu pescoço e eu te mostrando minha intimidade. do outro você perdendo o tesão e fingindo que é normal. de um lado a escritora que vibra e sorri só de ouvir sua voz. do outro a mulher forte e autossuficiente que finge silêncio pra não sofrer (mas sofre). de um lado a euforia, do outro a indiferença. de um lado o drama, do outro a indiferença. de um lado o amor, do outro a indiferença. o problema é que eu entrego os pontos, perco as forças, abro mão. caio do touro e fico no meio da arena esperando para ser pisoteada. me atraem as derrotas triunfais, as tragédias que levam ao encontro da solidão. estou encolhida no canto da sala, pequena e indefesa. estou sufocada e reprimida. eu não sei pisar em ovos mas ainda não desisti, eu nunca desisto.  é só escrever, escrevendo eu sobrevivo a tudo. escrevendo me sinto viva.

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