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Publicado em 28/01/2014

costumava me perguntar
quando deitávamos na cama
no que é que eu estava pensando

eu aumentava a força do abraço
e sorria, achando graça de tudo aquilo
era bonito saber que só o corpo não bastava

primeiro vinha o medo,
medo de perdê-la, medo de que passasse.

depois vinham os planos,
quero me casar com essa mulher, pensava,
para tê-la comigo assim todos os dias.

em seguida, a beleza.
como é lindo esse momento, essas curvas
esse cheiro e nossos corpos tão juntos.

(a gratidão não poderia faltar,
aprendi desde cedo a ser grata
por tudo que provoca riso,
e cada vez que ela respirava, uma dádiva,
me sentia quase indigna de tal presente)

pensava tudo isso,
não necessariamente nessa ordem.
e outras coisas também.
mas havia sempre um momento
em que a entrega era tão grande
que os pensamentos despareciam
evaporavam, esvaiam,
se dissipavam no meio de nós.

e era justamente nessa hora,
em que eu parecia tão distante
que ela me perguntava.
mas

como é que eu ia dizer?

então eu só dizia
nada, não estou pensando em nada

e ela nem desconfiava
do caminho percorrido
para chegar até ali

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