leio

Publicado em 03/02/2016

vivo
amo
esqueço
sofro
rio
sonho
sinto

e finalmente paro
para estar aqui

o último do ano

Publicado em 31/12/2015

o amor está bem distante do aquário que abriga os peixes coloridos sobre a mesa. nem mesmo os pássaros escandalosos nas gaiolas podem alcançá-lo com suas pequenas asas. ao contrário do que você dizia, seus ombros pontiagudos poderiam abrigar meu sono aqui ou em qualquer lugar. se até brasília pode ser aconchegante, quem dirá seus ombros. com a tua coragem poderíamos mudar o mundo. mas alguma coisa se perdeu entre pedras das rodovias que nos separam e isso deve ser uma grande tragédia. "devemos louvar a catástrofe, seja ela qual for, que destruiu a ilusão e colocou a verdade em seu lugar?" - está no livro rosa de virgínia woolf que você me deu. desastres são importantes para aproximar as pessoas, dizem. por aqui o mar está agitado e o sol nunca esteve tão quente. prefiro assim, a natureza é mais sincera quando mostra sua força. foi no oceano que você disse que morava o amor? isso seria bom porque setenta e um por cento do planeta é feito de água e olhando assim é possível imaginar a terra como um imenso coração em pleno funcionamento rotacionando e translacionando vida pelos mares como o sangue que nos chega pela aorta. fecho os olhos e suas pupilas crescem violentamente no escuro. esse é o acontecimento mais verde e sincero de dois mil e quinze.

ainda é essa a cor da esperança?
Publicado em 10/11/2015

se tivesse outros braços além desses
com todos eles te abraçaria

Nossos corpos celestes

Publicado em 19/10/2015

O efeito estufa chegou em Goiânia.
Na flor da idade o sol nos alcançou.
Estamos derretendo
sobre a grande estrela vermelha
que nos aquece como um jovem
fazendo força no auge da vida.
E enquanto reclamamos e comentamos
sobre o quanto o sol está bem
e mau conosco,
eu apenas me pergunto
o amor tem vida própria?

O amor é um linha reta

e isso não responde nada
mas somos nós
que o transformamos em labirinto,
como um homem que se afasta de Deus
em prol da religião,
como quem espanta os pássaros.

Serei engolida pela minha sede.

Tanto faz,
finjo que tenho calma.
E acho que realmente tenho.
Tento olhar conscientemente
para a urgência
e manuseá-la.
Sinto que estou costurando
calmamente
uma peça de crochê.

Estou perdendo a ingenuidade
numa velocidade sobre-humana.

Olho dentro dos meus olhos
num passado próximo
e havia tanto medo.
Agora não.
Ontem eu era
uma versão menor de mim.

A beleza é um estado de espírito.
E a maldade ainda me é inconcebível.
Uma pessoa despida e frágil,
como somos em essência
não pode ser má.

Ainda acredito muito nos outros
embora me assuste
essa ausência de empatia.

Papai é um homem muito sensível,
percebi isso
quando me falou das fases da lua.
Disse que gosta do fim do mês
quando ela está cheia
e ilumina as águas dos rios.

No fundo, somos todos
sensíveis demais.
E arte nos alcançaria,
não perdoaria ninguém,
se não tentássemos
ser tão fortes
o tempo inteiro.

Quando as pessoas se souberem
e se fizerem humanas
e se reconhecerem,
o mundo finalmente
será um lugar acolhedor.
E isso é tudo que sei
sobre a crise migratória na Europa.

Meu coração está coberto
por uma névoa vermelha,
suspeito que seja amor.
Publicado em 12/10/2015

perco o controle
e peço perdão
até perder a conta
me desculpa por ser eu
por ainda te escrever
depois de jurar que não
por quebrar todas
as promessas possíveis
de me manter longe
por ainda te sonhar nua.

03092015

Publicado em 07/09/2015

Mesmo se eu te previsse, você ainda seria uma surpresa. Ainda que eu te sentisse chegando como as ondas que se alongam com a proximidade da lua, sua presença me surpreenderia assustadoramente. Se eu te inventasse – e inventei – em pensamento, correlata aos meus sonhos, com esse mesmo cheiro, essa mesma pele e esse mel nos olhos, você continuaria sendo a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Meu corpo gemendo silenciosamente por não saber mais o que é permitido. A vontade escancarada que me tomou de mim e me fez tão sua. Falo do silêncio que só existe pra te fazer ficar e da palavra, insistente palavra, ingênua palavra que teima em transbordar mesmo sabendo que o principal sempre há de escapar por uma pequena fresta, alguma brecha onde só o coração alcança. O minuto de silêncio, o escuro, o inodoro, o insípido. O amor é um bicho solto no meio do nada. 

00:34, day one.

Publicado em 15/08/2015

há uma cerca de arame farpado
ao redor do meu corpo
e não importa para onde eu me mova
alguma parte de mim
sempre estará sangrando

quero ser uma pessoa boa

Publicado em 05/08/2015

quero ser a mulher que vai te marcar pelo resto da vida

você é o café preto que me tira da cama todos os dias

quando pronuncia as primeiras sílabas
e me sinto novamente parte do mundo
eu me arrasto para o chuveiro
e lavo os cabelos mais uma vez
tudo porque você existe
eu faço tanta coisa porque você existe
a consciência da sua existência
é minha dose diária de cafeína
eu acelero o carro para amenizar o atraso
mas não te abandono no caminho
nem quando chego
nem nas primeiras notícias
acho que não sei te abandonar
e você me acompanha
como a garrafa de água
que insisto em levar para onde vou
e porque você existe os dias passam
os dias voam

deito na cama e te espero estar pronta
você é o chá de camomila
que me adormece todas as noites
a consciência da sua existência
é minha dose diária de tranquilidade
porque você existe
eu sinto o peito afagado
por você
e só por você
meu coração pulsa forte
Publicado em 15/05/2015

da euforia súbita que só se faz presente depois da consciência do fim
da alegria irremediável que só aparece por se ter estado tão perto da morte
Publicado em 07/05/2015

os travesseiros ocupam
seu lugar na cama

lado esquerdo

como um coração
batendo fora de mim

estou amando
uma mulher de ferro
que belo castigo

nunca mais

Publicado em 16/04/2015

reclamarei da calma. pelo contrário, desejo encontrá-la a cada manhã, nos seus olhos ainda fechados dentro de algum sonho que me inclua ou não. e quando você entrar no carro com seu batom escuro, quero que cada pedaço do meu rosto fique da cor da sua boca. e que eu fique tão suja que seja impossível sair em público, pois será essa minha justificativa pra te levar pro quarto mais próximo e te amar, te amar e te amar o quanto não amei nesses quatro últimos dias.

o desespero

Publicado em 02/05/2015

é uma sanfona

vai e volta
abre e fecha

sempre ecoando
o som agudo

que vibra
em cada livro

na estante
na cama

em tudo
que lembra
você
Publicado em 25/04/2015

acho que já posso voltar a sorrir para ele. o homem cuja letra quase confundi com a minha na dedicatória em um exemplar de sua trágica epopéia. até hoje não consegui ler um poema completo, mas guardo com carinho na estante. o livro, e ele. doce justiceiro. nossas sedes se assemelham. é claro que não serei sua amante, sequer aceitarei qualquer dos seus convites. mas hoje me presenteou de novo. um livro de outro autor, sem dedicatória, sem letra parecida, sem vínculo, sem nada. o conteúdo intelectual me agrada. estou no segundo capítulo. o sorriso é pelo compartilhamento da leitura. não falo de leitura compartilhada, céus, como têm me esgotado as últimas leituras em grupo na sala de aula. ler é um exercício estritamente solitário. também não me refiro aos poemas declamados que, por sinal, me salvam diariamente. compartilhamento literário é qualquer coisa, menos o que fazemos em sala de aula. é o desejo de que outra pessoa tenha acesso àquelas palavras e sinta igualmente. dividir uma leitura é dividir sentimentos. por isso, pela beleza da intenção, um sorriso para o doce homem que teima em se aproximar.

no papel as tristezas são mais tristes

Publicado em 13/04/2015

nosso lugar preferido nem existe mais e o nosso precioso dia é só mais um dia perdido no meio de um reflexo do sol lunático de verão. deveria manter em segredo, não fosse seu fantasma a me visitar noite passada, tão real. eu te pedindo pra ser livre, pra ter coragem. antes de acordar assustada e perceber que talvez eu morra sem que nada mais faça sentido. os textos semanais, falar sobre a beleza da vida, a compaixão pelo outro. tenho compaixão de mim, de você. de todos os covardes. daqueles que como nós, são conscientes da própria covardia. nossa zona de conforto é uma grande cela escura e desconfortável, como aquela em que vivia ezequiel. os ratos andam sobre nós, vivemos entre fezes e ainda assim pensamos que aqui dentro é mais seguro. agora sei sobre as estações do ano. sei também das áreas de instabilidade que causam chuva. sim, sou a nova garota do tempo. de uma forma ou de outra sempre achamos alguma distração. o trabalho é como a fresta da janela anunciando, de dentro da prisão, a cronologia do tempo que passa. claro. escuro. o despertador já tocou, é hora de levantar. 

poema concretista ou rima no meio do nada

Publicado em 21/03/2015

tão natural quanto
dormir ao seu lado e sonhar com você
e o coração que só fica tranquilo quando te vê
me sentir viva na pulsação da veia do seu braço que me abraça
se seu corpo no meu corpo e não mais frio na madrugada,
que seja amor,
que assim se faça

2015, fevereiro.

Publicado em 02/2015

Escrevo à luz de velas depois de uma forte chuva que interrompeu o fornecimento de energia. Tudo está silenciosamente calmo. Não preciso de muito. A arte não precisa. A fraca luz amarelada me é suficiente. O cenário naturalmente poéticó é um presente da natureza. Ela sabe, não sou de inventar histórias. Tenho a vida inteira para me fazer artista. Mas agora, nesse instante, meu prazo não excede o tempo de uma vela.

O papel em branco. A tela em branco. O silêncio antes da música. As luzes acesas no cinema. O preto que antecede as cores da fotografia. São pequenas frestas por onde escapam pedaços de gente. Partes bonitas e sombrias. O que mais causa vergonha e também o que se quer mostrar. De alguma forma, só os pedaços mais verdadeiros e  humanos conseguem escapar. A eles damos o nome de obras de arte.
Imagine o artista como uma nuvem pesada se dissolvendo em pingos, alguns suaves e outros muito violentos. À medida que vai se desfazendo e se transformando em sua obra, se sente leve, livre. Mas a chuva é passageira, logo o céu estará azul de novo, pronto para receber outras nuvens carregadas. E até as mesmas nuvens que se enchem novamente e se dissolvem e se enchem e se dissolvem. A liberdade dura o tempo de uma tempestade. A liberdade dura o tempo de um poema. 

A grandissíssima amante da solidão é quem promove um encontro com a assunção e a fuga em um só lugar. Então, o espanto. O olhar-se no espelho e não se reconhecer.  A arte é um rastro permanente desses encontros. Quando se pode ficar em silêncio por mais de dois minutos e não é necessário sorrir, falar asneiras, ou concordar com qualquer besteira que sai da boca alheia. O artista se torna cada vez mais refém desses momentos. Egoísta, desprendido e solitário para alcançar o máximo de si.

O reconhecimento ao se deparar com o o próprio vômito. Embora não seja algo agradável de se imaginar. É exatamente assim. Desconfortável e aliviante. Uma agressão libertadora. A vela está acabando. Chegarei ao final e terei que reler para corrigir os erros e então me acharei tão tola e ingênua. Indigna dos seus olhos que me acompanham, do minuto que roubo. Mas nã há opção, se é aqui que me reconheço. Se essas palavras me soam mais familiar do que a pessoa que vejo no espelho.


A arte é linda e cruel. Simples como uma vela que queima e ilumina.

não

Publicado em 16/04/2015

nunca mais escrevi pensando em você

mas passo grande parte do tempo
pensando em te escrever
talvez isso valha

e tem mais
ainda refaço seus passos
se é que importa

os pássaros
as estrelas
os caminhos
às vezes me lembram você

quando canto sozinha

e se alguém me pergunta
sobre o amor

saudade

Publicado em 22/01/2015

é um pedaço
de qualquer coisa
que mora na gente
e vive louco
pra voltar pra casa

quero não querer

Publicado em 13/01/2015

suprir todas as suas faltas
não tentar tapar os buracos que a vida deixou
quero desejar apenas segurar sua mão

e isso me faz fadada ao fracasso

porque a verdadeiro amante
não se contenta em ser amante
tem que ser mãe, filha, irmã

tem que ser tudo
Publicado em 07/01/2015

de que valem
os surtos de coragem
se depois a solidão me atrai mais?

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