Publicado em 28/10/2014
desse tédio que me tira a vontade de viver
medo de que esse medo acabe e eu não sinta mais nada
não tenha nada para dizer
não quero mais saber o que minas gerais fez comigo
ou onde é que foi parar meu coração
e a solidão
desde não sei quando
se tornou sagrada
todas as minhas tentativas
têm sido falsas
dei férias à esperança
que inda ontem depositei no amor
(prefiro pensar assim)
despejar aqui
Publicado em 04/09/2014
os excessos que ninguém é obrigado a suportar.
que ninguém é capaz de suportar.
os excessos que ninguém é obrigado a suportar.
que ninguém é capaz de suportar.
expurgação
Publicado em 03/09/2014
amo pelo mesmo motivo que erro tantos caminhos. amo porque insisto. erro porque teimo em continuar. continuar e continuar até depois do fim. não fosse assim eu não teria perdido o medo. nem saberia que é possível voltar e seguir o fluxo, embora seguir o fluxo seja um grande pecado que cometemos contra a vida. já nasci cansada dessa alegria meia-boca que a gente é obrigado a sentir porque está vivo. por isso invento amores, e me entrego ao que não conheço sem delongas e protocolos. sem o medo que perdi nos dos caminhos que errei.
amo pelo mesmo motivo que erro tantos caminhos. amo porque insisto. erro porque teimo em continuar. continuar e continuar até depois do fim. não fosse assim eu não teria perdido o medo. nem saberia que é possível voltar e seguir o fluxo, embora seguir o fluxo seja um grande pecado que cometemos contra a vida. já nasci cansada dessa alegria meia-boca que a gente é obrigado a sentir porque está vivo. por isso invento amores, e me entrego ao que não conheço sem delongas e protocolos. sem o medo que perdi nos dos caminhos que errei.
preciso dizer a vida em voz alta. tenho um microfone sempre à minha espera, um microfone que não mata a sede de falar porque no jornalismo a gente perde tanto tempo dizendo o que não se quer que não sobra um minuto pra falar o que se tem vontade. escrevo porque quando alguém lê, a palavra entra pelos olhos tão alta quanto o grito dos desesperados. depois fulano vai falar que se sentiu tocado. é claro que sim. quem é que não se identifica com a crua realidade? não há nada mais bonito e mais cortante do que a verdade e é por isso que falo de tristeza, porque uma lágrima que cai dos olhos é o ato mais verdadeiro. e esse desespero infindável do homem só acaba com a morte (amém).
não basta simplesmente amar o que não conheço, preciso, sobretudo hoje, dizer sobre. a textura da pele que nunca toquei, o cheiro entre a orelha e o ombro que nunca senti. a boca, seca ou molhada. a língua que caminhará ou não nas nuvens do meu céu. tudo isso deve entrar na poesia, toda pessoa nova deve ser recebida com poesia. e aí eu viro vassala de novo, ofereço lealdade ao senhor amor sem garantia de troca. corro como um cão faminto e minha fome assusta até a mim. euforia compartilhada, repito, euforia compartilhada. o mapa da rota de fuga nos olhos de alguém. nos seus?
choveu. hoje o cheiro de chuva não foi ilusório. mas o chão molhado ainda não deu fim ao ar abafado da solidão. chega o fim do dia e eu já dei todas as notícias mas o coração continua pesado. as lentes cansadas quase pulam sozinhas para fora dos olhos e eu quase permito porque me cansa tanta nitidez. quero, mais do que a miopia, a cegueira que a gente só adquire na cama, quando sentir vale mais do que ver. quero te esperar das viagens e te contar que não falo inglês mas toco pandeiro como ninguém. e percorrer com você todos os hotéis da cidade, fumando todos os cigarros em todas as sacadas. e sentir o novo, de novo. mesmo que você não ache tão importante assim se sentir tocada. quase gosto desse amor involuntário que nasce com a vontade e antes de qualquer confirmação. toda escolha é sempre um risco que se corre. e se você for mais um caminho errado, que pelo menos eu te percorra até depois do fim.
agradeço a julho
Publicado em 03/08/2014
e a julia pelo silêncio, pela calma, pela passividade. agradeço por ter finalmente entendido que a vida é mais do que uma grande narrativa e que nem todos os escândalos particulares precisam ser ditos, embora o egoísmo do ofício de escrever seja uma grande tentação. agradeço pelo conformismo da calma que agora assumo e pela a urgência de sempre que me faz escritora, amante e humana. pela paciência com minha incompreensão e pelo momento lindo e duradouro que até hoje mata minha sede de amor. agradeço a julho e a julia que já passaram, mas passaram a passos lentos, me obrigando a diminuir a pressa para acompanhá-los. pela libertação do segredo arrancado, pelo compartilhamento. agradeço sobretudo porque no lugar de todas as heranças malditas que os amantes deixam para trás, restou apenas essa gratidão sincera e rara. e se todas as mulheres do mundo forem só mais uma, que a diferença esteja no que permanece além do fogo.
e a julia pelo silêncio, pela calma, pela passividade. agradeço por ter finalmente entendido que a vida é mais do que uma grande narrativa e que nem todos os escândalos particulares precisam ser ditos, embora o egoísmo do ofício de escrever seja uma grande tentação. agradeço pelo conformismo da calma que agora assumo e pela a urgência de sempre que me faz escritora, amante e humana. pela paciência com minha incompreensão e pelo momento lindo e duradouro que até hoje mata minha sede de amor. agradeço a julho e a julia que já passaram, mas passaram a passos lentos, me obrigando a diminuir a pressa para acompanhá-los. pela libertação do segredo arrancado, pelo compartilhamento. agradeço sobretudo porque no lugar de todas as heranças malditas que os amantes deixam para trás, restou apenas essa gratidão sincera e rara. e se todas as mulheres do mundo forem só mais uma, que a diferença esteja no que permanece além do fogo.
carne da minha carne
Publicado em 22/06/2014
volto a escrever uma carta depois de tanto tempo me concentrando na poesia. minha descrença vem da ideia de que qualquer tipo de prosa é um conjunto de explicações e justificativas íntimas demais para despertarem em alguém o desejo de serem lidas. mas afinal, nem todos os escritos são, em essência, para serem lidos. alguns, como esse, não passam de salvação para quem os escreve. creio que a aproximação está cada vez mais rara, quanto mais o interesse por aquilo que é tão particular. mas no auge de meu egoísmo e desespero te escrevo para dizer que passei a tarde em exercício doloroso de tentar desvendar teu silêncio. escrevo também para dizer que estou aí, não aqui. sei, muito antes daquela manhã, muito antes de sentí-lo bater no meu peito direito, sobre a bondade do teu coração. reconheço o valor do teu sorriso muito antes de querer que fosse nosso e querer que fosse nós a causa da tua alegria. "ah, quem me dera eu pudesse ser a tua primavera". não me interessa mais ser a causa de nada, contanto que sorrias como quando beijei tua barriga. contanto que sorrias todos os dias, tão natural quanto tua beleza. e se voltares atrás, nada farei. nada farei pois não há nada que alcance o livre arbítrio humano. queria ser eu silêncio, calma, e tudo mais quanto exigisses de mim. queria ficar em meu canto, calada, contemplando em paz a espera. mas sou esse desespero, essas tantas palavras, essa sede por um sinal de vida teu, por um carinho teu. "sou louca por você" tenho dito todos os dias. a verdade é que te quero com toda minha lucidez, nua e vestida. quero que seu coração despido me aqueça feito fogo que nasce do atrito entre dois corpos. e que o meu coração quente nunca te deixe sentir frio. mas há ainda o mistério, o tempo que não passa, e essas distâncias nunca medidas com exatidão. nada posso fazer senão te esperar com a calma que não possuo, com a saudade que corta e dói. desejei até que secasse meu sangue, porque o amor que sangra por dentro dói mais do que todas as feridas. mas vou deixar que corra tudo, a corrente sanguínea, a vida, os nossos destinos, que quiçá se entrelaçarão no final. não se vista de nada, seja meu amor nu, no topo do mundo, a ler meu corpo. enquanto te escrevo em silêncio poemas como esse:
volto a escrever uma carta depois de tanto tempo me concentrando na poesia. minha descrença vem da ideia de que qualquer tipo de prosa é um conjunto de explicações e justificativas íntimas demais para despertarem em alguém o desejo de serem lidas. mas afinal, nem todos os escritos são, em essência, para serem lidos. alguns, como esse, não passam de salvação para quem os escreve. creio que a aproximação está cada vez mais rara, quanto mais o interesse por aquilo que é tão particular. mas no auge de meu egoísmo e desespero te escrevo para dizer que passei a tarde em exercício doloroso de tentar desvendar teu silêncio. escrevo também para dizer que estou aí, não aqui. sei, muito antes daquela manhã, muito antes de sentí-lo bater no meu peito direito, sobre a bondade do teu coração. reconheço o valor do teu sorriso muito antes de querer que fosse nosso e querer que fosse nós a causa da tua alegria. "ah, quem me dera eu pudesse ser a tua primavera". não me interessa mais ser a causa de nada, contanto que sorrias como quando beijei tua barriga. contanto que sorrias todos os dias, tão natural quanto tua beleza. e se voltares atrás, nada farei. nada farei pois não há nada que alcance o livre arbítrio humano. queria ser eu silêncio, calma, e tudo mais quanto exigisses de mim. queria ficar em meu canto, calada, contemplando em paz a espera. mas sou esse desespero, essas tantas palavras, essa sede por um sinal de vida teu, por um carinho teu. "sou louca por você" tenho dito todos os dias. a verdade é que te quero com toda minha lucidez, nua e vestida. quero que seu coração despido me aqueça feito fogo que nasce do atrito entre dois corpos. e que o meu coração quente nunca te deixe sentir frio. mas há ainda o mistério, o tempo que não passa, e essas distâncias nunca medidas com exatidão. nada posso fazer senão te esperar com a calma que não possuo, com a saudade que corta e dói. desejei até que secasse meu sangue, porque o amor que sangra por dentro dói mais do que todas as feridas. mas vou deixar que corra tudo, a corrente sanguínea, a vida, os nossos destinos, que quiçá se entrelaçarão no final. não se vista de nada, seja meu amor nu, no topo do mundo, a ler meu corpo. enquanto te escrevo em silêncio poemas como esse:
no topo do mundo
ela lia meu corpo
e eu absorvia
sua língua, seu mel
no alto, mais alto
minhas curvas em braile
cheiro de fôlego
e gosto de céu
o mundo era nós
e tudo era nosso
a vida restrita
a um quarto de hotel
sei que o topo do mundo é estreito, e que do alto mais alto sei cai. mas confia em mim como confio em ti. me abraça forte, me beija, me afaga. me embrulha em tua pele. e não se esqueça, sou contigo, estou contigo. só assim permaneceremos n'altura das nuvens e o alimento do amor será também o alimento da vida que queremos levar.
com amor e saudade,
da sua.
desilusão
Publicado em 09/06/2014
sedativo eficiente
cala aquele que sente
e que veste na boca
camisa de força
mas continua a sentir
sedativo eficiente
cala aquele que sente
e que veste na boca
camisa de força
mas continua a sentir
te espero
Publicado em 27/05/2014
te espero desde que meu corpo derretia sob o colchão no chão de madeira do apartamento em salvador. desde que te re-conheci desenho suas curvas em pensamento como uma luz rasgando esse abismo pesado e escuro que é a vida às vezes. coragem. para admitir que hoje ainda não te esqueci. amanhã, quem sabe. ou depois. e os pés, os caminhos e os cheiros sozinhos. acho que me dou bem com a solidão. planejei nossa vida inteira no caminho da minha casa até o bar. planejei paris e planejei estudar menos e produzir menos para ser sua por mais tempo embora eu seja sua o tempo inteiro desde que meu corpo derretia. pensei em abdicar da arte em prol do amor e diminuir o passo para você me acompanhar. pecado mortal, desperdício, será? o mundo não precisa de mais amores falidos. quero que você me perca como me perdi todas as vezes em que desisti de viver porque a vida sem você não tinha graça. quero que você me perca hoje, agora, pra sempre.
te espero desde que meu corpo derretia sob o colchão no chão de madeira do apartamento em salvador. desde que te re-conheci desenho suas curvas em pensamento como uma luz rasgando esse abismo pesado e escuro que é a vida às vezes. coragem. para admitir que hoje ainda não te esqueci. amanhã, quem sabe. ou depois. e os pés, os caminhos e os cheiros sozinhos. acho que me dou bem com a solidão. planejei nossa vida inteira no caminho da minha casa até o bar. planejei paris e planejei estudar menos e produzir menos para ser sua por mais tempo embora eu seja sua o tempo inteiro desde que meu corpo derretia. pensei em abdicar da arte em prol do amor e diminuir o passo para você me acompanhar. pecado mortal, desperdício, será? o mundo não precisa de mais amores falidos. quero que você me perca como me perdi todas as vezes em que desisti de viver porque a vida sem você não tinha graça. quero que você me perca hoje, agora, pra sempre.
Publicado em 20/04/2014
ouço tchaikovsky
antes de dormir
mas nem isso me salva
de acordar sem ar nesses dias
em que o coração lateja ao invés de bater.
e eu abro os olhos
e fecho imediatamente
porque ainda não estou pronta
para encarar minha ruína.
minha ruína de signo forte e cabelos longos
que está indo embora
para dar lugar a outra
de olhos ainda mais claros
me olhando transparentes sob o sol
e vendo em mim toda a pequenez humana,
todo o medo de quem se sabe vulnerável
pelo imenso e fraco coração.
sou pequena perto do que sinto.
ouço tchaikovsky
antes de dormir
mas nem isso me salva
de acordar sem ar nesses dias
em que o coração lateja ao invés de bater.
e eu abro os olhos
e fecho imediatamente
porque ainda não estou pronta
para encarar minha ruína.
minha ruína de signo forte e cabelos longos
que está indo embora
para dar lugar a outra
de olhos ainda mais claros
me olhando transparentes sob o sol
e vendo em mim toda a pequenez humana,
todo o medo de quem se sabe vulnerável
pelo imenso e fraco coração.
sou pequena perto do que sinto.
abril
Publicado em 01/04/2014
minha urgência de amor é tão grave quanto a urgência que tenho de silêncio e solidão. torço pelos erros dos outros, para que o pior venha sempre à tona, para as grandes decepções. gosto de brincar com defeitos e infidelidades, perdoá-los como se fosse Deus e oferecer sempre a ternura como retribuição. quanto maior o desprezo, mais me humilho, mais insisto no nada. aceito almas vazias como papeis em branco que tento preencher e não tenho vergonha da minha loucura. me acho tão louca quanto o homem que gritava sozinho no mar de ondina. não, não tenho vergonha do meu descontrole e deveras rio da inconstância que me consome. vivo entregue às emoções e meu coração nunca estará vazio, porém lamento o fato de que a carne tem sido o centro de tudo. peles macias são motivos para minhas tragédias. durmo sufocada pelas palavras que não digo porque me acho incapaz de dizer. sou uma péssima escritora, uso a poesia para me ajudar a construir fracassos e narrá-los depois. faço declarações de amor para que as pessoas se sintam amadas, é para isso que estou aqui. meus perdões às vezes são tão falsos porque não há o que perdoar, certas traições não me comovem justamente por serem tão previsíveis. finjo, finjo muito que sou frágil e que vou morrer caso alguém vá embora, mas minha morte não dura mais do que um dia, essas paixões não valem mais que isso. me sinto tocada por tudo, pelas flores do caminho, pelo sol e pelo corpo que dorme junto ao meu, mas pouquíssimas coisas chegam verdadeiramente em minhas entranhas. sim, eu estou por baixo, nunca por cima, nunca no poder, sempre implorando por amores impossíveis. não me acho melhor do que a pior pessoa do mundo. dou tantas chances aos outros que para mim só sobra a rigidez, o julgo, a culpa; por isso quando sou traída me sinto menos só, menos condenada. admiro os erros como parte fundamental do que me atrai no ser humano. sou a vítima e ao mesmo tempo o observador nefasto dentro de um grande experimento divino e não ligo se riem da minha cara, eu rio ainda mais porque toda as situações às quais me sujeito são escolhas conscientes. no fundo, meus buracos são rasos ao ponto de que eu possa sair correndo quando quiser. estou fugindo de novo e só alguém com o coração tão pesado quanto o meu poderá me alcançar. e nossos pesos se afundarão juntos em uma cova porque o amor também é morte, mas viverão antes, viveremos, enquanto a parte viva do amor ainda se fizer presente. sei bem sobre o tamanho da tolice dos meus sonhos, sei que falando assim esperançosa pareço mesmo cega e é exatamente o que tenho desejado nos últimos dias, perder os sentidos. o sono tem sido um grande alento e por isso continuo, agora mais do que nunca, rogando por força e paciência para abrir os olhos e levantar da cama todos os dias.
minha urgência de amor é tão grave quanto a urgência que tenho de silêncio e solidão. torço pelos erros dos outros, para que o pior venha sempre à tona, para as grandes decepções. gosto de brincar com defeitos e infidelidades, perdoá-los como se fosse Deus e oferecer sempre a ternura como retribuição. quanto maior o desprezo, mais me humilho, mais insisto no nada. aceito almas vazias como papeis em branco que tento preencher e não tenho vergonha da minha loucura. me acho tão louca quanto o homem que gritava sozinho no mar de ondina. não, não tenho vergonha do meu descontrole e deveras rio da inconstância que me consome. vivo entregue às emoções e meu coração nunca estará vazio, porém lamento o fato de que a carne tem sido o centro de tudo. peles macias são motivos para minhas tragédias. durmo sufocada pelas palavras que não digo porque me acho incapaz de dizer. sou uma péssima escritora, uso a poesia para me ajudar a construir fracassos e narrá-los depois. faço declarações de amor para que as pessoas se sintam amadas, é para isso que estou aqui. meus perdões às vezes são tão falsos porque não há o que perdoar, certas traições não me comovem justamente por serem tão previsíveis. finjo, finjo muito que sou frágil e que vou morrer caso alguém vá embora, mas minha morte não dura mais do que um dia, essas paixões não valem mais que isso. me sinto tocada por tudo, pelas flores do caminho, pelo sol e pelo corpo que dorme junto ao meu, mas pouquíssimas coisas chegam verdadeiramente em minhas entranhas. sim, eu estou por baixo, nunca por cima, nunca no poder, sempre implorando por amores impossíveis. não me acho melhor do que a pior pessoa do mundo. dou tantas chances aos outros que para mim só sobra a rigidez, o julgo, a culpa; por isso quando sou traída me sinto menos só, menos condenada. admiro os erros como parte fundamental do que me atrai no ser humano. sou a vítima e ao mesmo tempo o observador nefasto dentro de um grande experimento divino e não ligo se riem da minha cara, eu rio ainda mais porque toda as situações às quais me sujeito são escolhas conscientes. no fundo, meus buracos são rasos ao ponto de que eu possa sair correndo quando quiser. estou fugindo de novo e só alguém com o coração tão pesado quanto o meu poderá me alcançar. e nossos pesos se afundarão juntos em uma cova porque o amor também é morte, mas viverão antes, viveremos, enquanto a parte viva do amor ainda se fizer presente. sei bem sobre o tamanho da tolice dos meus sonhos, sei que falando assim esperançosa pareço mesmo cega e é exatamente o que tenho desejado nos últimos dias, perder os sentidos. o sono tem sido um grande alento e por isso continuo, agora mais do que nunca, rogando por força e paciência para abrir os olhos e levantar da cama todos os dias.
15
Publicado em 05/02/2014
tempo não se arraste tanto
só quando eu lhe dissertempo não se arraste tanto
voa feito passarinho
deixa viva a minha fé
mande forças para ela
que já nem sei onde está
faça das minhas palavras
abraços a lhe afagar
beija suas mãos por mim
finge que não foi você
deixa meu cheiro no ar
e diga que eu fui lhe ver
tempo quando isso passar
ah, eu vou lhe agradecer
ah, eu vou lhe perdoar
por que
fosse a pressa em teu lugar
íamos desfalecer
íamos nos afogar
nos ver passar
sem respirar
tampouco amar
nem mesmo ser
sem ver.
13
Publicado em 03/02/2014
na escuridão da noite
na escuridão da noite
céu e mar se confundem
sinto vontade de me misturar
nadar, nadar e nadar
até o limite do firmamento
pois cada vez que desapareço sozinha
é quando me torno realmente forte.
como é fácil fugir dos outros.
quanto a mim, não sei o que é pior,
fugir ou me enfrentar
sinto vontade de me misturar
nadar, nadar e nadar
até o limite do firmamento
pois cada vez que desapareço sozinha
é quando me torno realmente forte.
como é fácil fugir dos outros.
quanto a mim, não sei o que é pior,
fugir ou me enfrentar
17
Publicado em 28/01/2014
costumava me perguntar
no que é que eu estava pensando
eu aumentava a força do abraço
e sorria, achando graça de tudo aquilo
era bonito saber que só o corpo não bastava
primeiro vinha o medo,
medo de perdê-la, medo de que passasse.
depois vinham os planos,
quero me casar com essa mulher, pensava,
para tê-la comigo assim todos os dias.
em seguida, a beleza.
como é lindo esse momento, essas curvas
esse cheiro e nossos corpos tão juntos.
(a gratidão não poderia faltar,
aprendi desde cedo a ser grata
por tudo que provoca riso,
e cada vez que ela respirava, uma dádiva,
me sentia quase indigna de tal presente)
pensava tudo isso,
não necessariamente nessa ordem.
e outras coisas também.
mas havia sempre um momento
em que a entrega era tão grande
que os pensamentos despareciam
evaporavam, esvaiam,
se dissipavam no meio de nós.
e era justamente nessa hora,
em que eu parecia tão distante
que ela me perguntava.
mas
como é que eu ia dizer?
então eu só dizia
nada, não estou pensando em nada
e ela nem desconfiava
do caminho percorrido
para chegar até ali
28
Publicado em 16/01/2014
a distância enfim nos alcançou
vezenquando a vida há de nos afastar
para além do corpo físico
e para achar o caminho de volta
teremos que nos tatear no escuro
e quiçá nos agarrarmos desesperadamente
como quem tem
medo-pânico-pavor
não de perder o outro
mas de perder a si próprio
só sua respiração,
o barulho da sua respiração
despido de silêncio e roupa
anunciará o reencontro
e eu vou quebrar a calma
vou bater na sua cara,
vou cuspir na sua cara,
quando gritar em tom ensurdecedor
que não, eu não vou desistir de nós
vou cuspir na sua cara,
quando gritar em tom ensurdecedor
que não, eu não vou desistir de nós
31
Publicado em 13/01/2014
quero que tua língua me molhe
tal qual onda desvirginando
a secura dos meus pés
que tu entres em mim
como o movimento das águas
enterrando meus dedos na areia
que alternes entre calma e violência
mas nunca deixes de vir
me pegando assim despreparada
amor,
sozinha eu não consigo
sozinha eu só consigo ser só
32
Publicado em 13/01/2014
há uma estrela brilhantereluzindo em seus cabelos.
me aproximo,
os vaga-lumes voam.
me aproximo,
os vaga-lumes voam.
33
Publicado em 11/01/2014
assumo minha identidade
minha sina
minha obsessão
escrever
sozinha
tento reconhecer
a realidade
que me chega tão distante
aqui nada acontece
a chuva não cai
a música não toca
quase não existo
existo onde você está
sua boca molhada em preto e branco
eu, você, os barcos da ribeira
seu corpo, silhueta da lua
quase me sinto real
ao telefone, mamãe deseja lembranças
mal sabe ela
me lembro até do que não vivi
34
Publicado em 10/01/2014
vencerá
o verbo
a batalha feroz contra a carne?
ou cairá
exausto
diante do desejo imediato
e da insuficiência do dizer?
minha palavra
cansada
(de se deitar em tantas camas)
quer dormir
(e acordar com você)
que me transborde poesia
onde lhe falta
que nos transforme, a poesia,
em nuvem alta
a batalha feroz contra a carne?
ou cairá
exausto
diante do desejo imediato
e da insuficiência do dizer?
minha palavra
cansada
(de se deitar em tantas camas)
quer dormir
(e acordar com você)
que me transborde poesia
onde lhe falta
que nos transforme, a poesia,
em nuvem alta
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